terça-feira, 17 de junho de 2008

Marcas Infamantes

A invocação da Igualdade nunca é feita para coisa boa, mas bate records quando tem a consequência de fornecer criancinhas à adopção de tarados com provas dadas em atormentá-las. Sei que estas luminárias que nos governam não ficaram contentes enquanto não criaram o ambiente propício a fornecer droga aos dependentes dela, mas há uma diferença entre essa asneira e o atentado que seria conceder prioridade para cargos de directores financeiros a cadastrados por desfalques, subsidiar o transporte para zonas verdes e oferecer gasolina a incendiários e anestesiar vítimas potenciais, ao mesmo tempo que se ofereceria facas a previsíveis assassinos delas.
Como se compreende então que não se veja que a Igualdade - não esqueçamos, tratar o desigual desigualmente - servirá para cobrir o favorecimento desta actividade lúdica?
Além de que, se é para igualizar, prefiro que criminoso de nenhuma espécie seja elegível para adopções e que deixe de haver apagamentos de qualquer tipo nos registos criminais. Um indivíduo deve ser acompanhado para todo o sempre pelo peso do que fez na vida. Era essa a filosofia magnífica da marcação com ferro em brasa, a qual, se poderia chocar pela barbaridade que (co)move sensibilidades mais mansas, não encontra equiparável oposição nos ferretes de papel da burocracia.
Nunca confiem em gente que faz gala em ter fraca memória.

8 comentários:

ana v. disse...

Fui lendo este texto com interesse e concordância, até chegar à apologia do ferrete indelével, que me arrepiou as entranhas. Condenações eternas, Paulo? Nem Cristo o defendeu, quanto mais os Homens...
Essa não, caro Paulo.

O Réprobo disse...

Querida Ana,
lá está, é a Ana uma das Sensibilidades Mais Mansas que referi. Cristo, por sinal, foi Quem defendeu as condenações eternas. Aos homens apenas está facultada a condenação perpétua. Acho que todos devemos arrastar até ao fim da vida a lembrança dos nossos actos. Mas atenção, não defendi que se reintrodizisse o ferro em brasa, aceitei a comutação em papelada.
Beijinho

ana v. disse...

Ah, que magnânimo!...

E não é verdade, isso: Cristo pregou o Perdão, tanto o divino como o humano. E a remissão dos pecados, e a salvação dos pecadores nem que seja in extremis, e tantas outras preciosas lições, mais consentâneas com uma sensibilidade mansa do que com um acusador implacável... pelo menos aquele Cristo em que eu acredito, Paulo.

O Réprobo disse...

Querida Ana, há-de convir que uns dados obscuros num qualquer arquivo não são bem o mesmo que o ferrete a churrasquear uma porção da carne...

Então onde é que se enquadra a pregação de Cristo sobre o Inferno? Não podemos ser selectivos. Jesus ensinou a não manter o rancor; e que o arrependimento sincero e sofrido pode beneficiar da Misericórdia de Deus, que é Infinita. Não deu a ninguém direitos ou deveres de perdoar as ofensas feitas aos vizinhos, nem isso faria qualquer sentido. "Perdoa o TEU inimigo".
Beijinho

ana v. disse...

Alegorias, Paulo. Metáforas, que não preciso obviamente de explicar-lhe o que são. A Bíblia está cheia delas, como sabe. Mas embora se destine a ensinar a separar o Bem do Mal, a mensagem (e o exemplo!) de Crito é de Perdão. Totalmente. Como quer que eu perdoe o MEU inimigo se os vizinhos não mo permitirem e continuarem a crucificá-lo, não me explica?
Continuo na minha, Paulo: não acredito num Deus-carrasco, e muito menos acho que a inflexibilidade seja um bom caminho para os homens. As minhas grandes referências de homens exemplares são todas de espíritos pacíficos, embora lúcidos: Ghandi, Madre Teresa, Mandela, e alguns mais. Isso para mim é que é difícil. Condenar é facílimo.
Mas parece-me que sobre isto nunca concordaremos, pois não? Não faz mal, eu sou democrata...
;)
Beijo

O Réprobo disse...

Com certeza que o Exemplo de Cristo é o Perdão, mas porque antes não era concebido tal, na Divindade do Antigo Testamento, assim como a subsistência dos ódios individuais era bem vista. Isto de considerar metáforas o que nos agrada menos tem que se lhe diga e as referencias que pode achar ao Inferno não comportam tal interpretação.
Apesar do mérito posterior na contenção, Ghandi e Mandela estiveram ligados a movimentos de que resultaram mortes e não estamos a falar da aplicação de justiça a criminosos civis, pois não?
Essa da Democracia é que não vejo a que possa ser chamada, salvo se uma confissão de a Ana laborar em erro, pois foi a instauração desse sistema que bateu os records de execuções sem culpa formada na Europa, durante o Terror. Talvez seja também uma metáfora, heim? Não para aqueles a quen fizeram a barba, todavia.
Mas, pelo visto, considera coisa pior proteger a criançada com uma pilha dse papéis que lembrem quem é quem. Não quero ser Democrata!
Beijinho

ana v. disse...

Paulo, continuaríamos eternamente esta bela discussão... nada contra, mas não me parece que seja esta a melhor sede para isso.
Digo-lhe apenas que não, não defendo que se facilite a vida aos criminosos. E que as crianças (assim como todas as vítimas indefesas) devem ser devidamente defendidas dos seus predadores, e que a sociedade tem responsabilidades nessa papel. Satisfeito? Nisso estamos de acordo... como não?
Eu falava de perdão, de humanidade para com os que falham. Não de facilitismo. A conversa desviou-se para a religião e para a intrepretação dos Evangelhos. Eu falava de exemplos, e de paz. Só isso.
Pronto, democracias à parte parece-me que até estamos de acordo no essencial. Mas só no essencial. E é sempre um prazer discutir com um oponente tão elegante nas réplicas.
Beijinho

O Réprobo disse...

Querida Ana,
bem me parecia que não discordatíamos no fulcro desta espinhosa questão. Por isso vivam os registos duradouros: mesmo para quem ache que a sociedade deve desculpar tudo, perdoar não é esquecer e é pela memória que (também) se previne.

Se alguma vez consegui ser elegante, é contagiado pela Qualidade de com Quem debato.
Beijinho