quinta-feira, 27 de março de 2008

Culpas de Mau Pegador

Juno em Chamas de Frederick LeightonA modificação que consagra a unilateralidade do divórcio, abolindo o requisito de culpa na modalidade litigiosa, significa duas coisas: em primeiro lugar um mal-estar deste sector e geração da Classe Política, perante a mera referência de um dever impendente sobre os unidos pelo Himeneu. Depois, é um acrescento mais à psicanálise, à droga e a outras alienações, no sentido de erradicar a culpa do indivíduo. Jesus só admitia o divórcio, contudo institucionalizado entre o mundo judaico da época, em caso de adultério, logo, culpa gravíssima. É certo que aqui não se trata só do que Deus uniu, também há a considerar o que a República Portuguesa colou com cuspo e que não se subordina à mesma ordem de valores. Mas faz impressão que uma civilização, mesmo em cacos, que considerou o Repúdio como uma característica das sociedades primitivas, o venha a consagrar com outro nome, eliminando a relevância (salvo na distribuição das massarocas, suponho) da responsabilidade por actos graves.
É verdadeiramente estatuir que o divórcio não é um mal tendente a remediar outro, pior, mas uma coisa que acontece, como estar a chover quando se sai de casa. E nesta banalização irá entroncar o novíssimo e contraditório corolário dos contos de fadas revistos e emendados:
Então divorciaram-se e foram infelizes para sempre.

21 comentários:

Anónimo disse...

Absolutamente off-topic, querido Amigo Réprobo:

Estou ainda indormida e não garantiria fazer uma boa leitura. Mas fui desincentivada (claro que se essa palavra não existe, passa a existir a partir de agora;-))
quando vi a foto do meu Amigo ali com os livros, a Biblioteca,
Ah! Paulo...Ah Paulo.. ou seria: Saulo, Saulo..?

Virei assim que estiver refeita está bem.
Se é que irei refazer-me;-))))
Um beijinho muito Amigo da
Meg

O Réprobo disse...

Querida Meg,
que fique repousadinha é o que todos queremos, para A vermos por aqui com a vivacidade e saber habituais.
Quanto ao nome, como o meu Patrono o mudou num sentido, quem levaria a mal que a Meg operasse a retroversão?
Beijinho

fugidia disse...

Meu caro Réprobo,
esta caixinha não é suficiente para lhe dizer o que penso sobre o assunto.
Mas não resisto, pelo menos, a provocá-lo, lá no meu cantinho, com um som de batucada fantástico...
:-)))

O Réprobo disse...

Vou já ver, Querida Fugidia, mas gostava de conhecer as Suas vistas sobre o tema.
Beijinho

Anónimo disse...

Meu caro C.P.

Os que foram capazes de legalizar o homicídio por aborto a pedido, são capazes disto e de muito mais.

O Réprobo disse...

O problema está no retrocesso civilizacional. Só se percebe se for para aliviar a carga dos tribunais, que, doravante, não terão de averiguar quem tem culpas no cartório, digo no casório...

fugidia disse...

Meu caro Réprobo,
não é, nem pode ser este, o "cerne" do problema, mas creio que aliviar a carga dos tribunais não é muito comparado com o "lavar roupa" desta, que é muito traumatizante para qualquer um dos (ainda) cônjuges. E para os filhos então... a acrescer ao facto de serem utilizados como arma de arremesso...?
Este tema tem muitas cambiantes e é-me difícil analisá-lo só sobre dois pontos de vista: a favor ou contra.
E numa caixinha destas, sem o imediatismo de uma boa discussão, é muito desconsolador.
:-)

O Réprobo disse...

Querida Fugidia,
estava a brincar, com a carga sobre o alívio da mesma, claro.
Mas, nas situações penosas que enuncia, em que é que poder prescindir da atribuição de culpa vai melhorar a situação?
Beijinho

fugidia disse...

Caro Réprobo,
antes de mais um esclarecimento: não li ainda a proposta e não estou aqui a defendê-la :-)

Mas não ser necessário atribuir culpa torna inútil a alegação e, sobretudo, a prova, do desrespeito dos deveres conjugais. No caso da infidelidade (a maioria dos casos), por exemplo, há-de convir que salvaguarda a intimidade dos próprios e dos que lhe estão mais próximos e são queridos.
Além do mais, as consequências actuais da "culpa" são quase nulas em termos práticos (designadamente dos bens).
E, acrescento ainda, quando um casamento não funciona, se quisermos ser objectivos, a culpa não será sempre dos dois (ainda que um possa ter um pouco mais, ou bastante mais, do que o outro)?
Um beijo também para si.

O Réprobo disse...

Querida augidia,
eu não alinho em diluições. As pessoas que se comprometem a acatar um certo número de deveres ficam obrigados ao seu cumprimento e não se pode colocar o infractor no mesmo plano do que não transgrediu, a menos que concordem nisso e, aí, não haverá litígio.
Ora é precisamente este nivelamento demissionista que a inovação acarreta.

Nada tem a ver com esta questão, mas a minha concepção do casamento é cada um ser dono do outro.
Beijinho

ana v. disse...

Como diz a Fugidia, e com toda a razão, este assunto daria pano para mangas (de alpaca, no caso dos cartórios metidos ao barulho) e também eu precisaria de saber muito mais para me pronunciar com alguma segurança sobre isto.
Por isso, Querido Paulo, cabe-me apenas comentar aqui a sua definição radical - e altamente poética! - do casamento. Quanto a mim, é na paixão (e não necessariamente no casamento) que cada um é dono do outro. O problema é que essa posse é quase sempre responsável pela destruição do próprio casamento, por asfixia...
E deixe já agora que lhe lembre que a razão de divórcio por adultério, nessa abençoada época e durante séculos depois disso, só era válida para um dos cônjuges! Sempre se avançou alguma coisa desse tempo para cá, acho eu, que sou a outra metade...
Um beijo

fugidia disse...

Meu caro Réprobo,
subscrevo o comentário da AV.
Cada um ser dono do outro?!?! Caramba!, homem!!!
:-)))


(e continuamos com a questão pendente da "culpa" de ambos...)
:-)

O Réprobo disse...

Querida Ana,
não tenho a certeza sobre a Judeia, mas na Roma da época era possível por iniciativa de qualquer dos cônjuges, embora com requisitos de reabsorção feminina pela família de origem... porque as Mulheres das classes dominantes não trabalhavam e não se queria vê-las passar fome.
A Paixão é o que diz, mas uma propriedade mais instável, por não ter sido alvo de... escritura píblica, nem sujeita ao registo.
Já que alimento este ideal poético, como bem observa, não posso deixar de querer responsabilizar aquele que dê origem a erosões de tais direitos adquiridos. É um caso raro em que a Justiça e a Segurança não brigam.
Beijinho

O Réprobo disse...

Querida Fugidia,
má nada! Por que julga que ainda não casei? Pôr-me com dona custa um bocado. Mas quando for espero que seja de vez. E recíproco.
Bjinho

fugidia disse...

Querido Réprobo,
pois custa, custa!
E quando for para casar, também lhe desejo que seja de vez, mas sem sentimentos de propriedade (recíproco): só assim será verdadeiramente feliz... :-p

Beijinho para si tb
:-)

O Réprobo disse...

É que, Querida Fugidia, eu acho que ter, na sua plenitude, implica um pouco mais do que simplesmente possuir.
A propriedeade tem du bon, continuo a crê-lo.
Bj.

ana v. disse...

Percebo-o, Paulo. Já que ainda não passou à prática, justifica-se plenamente o ideal poético que transpira da sua visão do casamento. E dou-lhe toda a razão... em teoria. Não quero parecer desmancha-prazeres (desejo-lhe uma longa e feliz união, se e quando a quiser, e não vejo por que não possa vir a ser a excepção à regra) mas esse grau de expectativas é perigoso. Nada nos garante a felicidade eterna de um casamento, como não é líquida a infelicidade eterna de um divórcio.
Dito isto, defendo já o oposto: acredite, acredite sempre! O estado de graça que nos dá essa inocência já vale a pena, por si só. "Eterno enquanto dura", como disse o Poetinha, é tudo aquilo a que podemos aspirar.
Um beijinho

O Réprobo disse...

Já se sabe, Querida Ana, que nada é seguro. E isso pode ser um incentivo a não descurar a conduta.
Mas nem devemos baixar o nível do Ideal, nem devemos deixar de fazer a nossa parte. Sob pena de, à partida, estarmos a condenar-nos a demasiado pouco.
Beijinho

-JÚLIA MOURA LOPES- disse...

Eu entendo o Paulo...apesar da minha má experiência...

A posse pode ser uma coisa bonita ..

O Réprobo disse...

Querida Júlia,
é que eu quis deixar claro que penso constituir o abaixamento do Ideal o perigo de nos condenarmos à partida. Não penso que seja um iludido, aliás as virtudes que esta postura possa encerrar dependem, justamente de o não ser.

Quanto ao segundo ponto, é como dizia Madame de La Tour:
"No Amor, como nas outras coisas, a Experiência é um médico que chega depois da doença".
Beijinho

-JÚLIA MOURA LOPES- disse...

é verdade, Paulo...

eu entendi.

beijinho