sábado, 29 de março de 2008

O Telefone Vermelho

Nunca compreendi a esperança de suavização que vejo investida em Raul Castro, no que tange ao Futuro de Cuba. Sem o carisma do irmão, foi durante muitos anos dado como ainda mais alinhado com a URSS do que aquele. Só vejo uma de duas explicações: ou o facto de Moscovo ter mudado de cor sossega os espíritos, ou é vago mergulho na janela do impreciso, agarrando-se à noção de que, muitas vezes, os reputados duros são os promotores de abrandamentos de sistemas enérgicos.
Vale esta prevenção para conspirativamente teorizar um bocadinho, tentando prendê-lo por não ter cão, já que está abundantemente encarcerado por o ter. Ao permitir que outros que não os do poleiro tenham acesso a telemóveis, para mim, é um reforço da opressão. Mas, para os que tenham a engenhoca em boa conta, pode ser uma de duas coisas - ou uma variante do pão e circo que desvie energias da oposição, ou, inspirando-se num certo incidente há pouco passado numa escola portuguesa, um incentivo à delação ou simples emissão de imagens de comportamentos desviantes, que facilitem o trabalho da polícia...

14 comentários:

ana v. disse...

Ou ainda uma perversa mas muito possível forma de controlar os cidadãos em Cuba, apenas mais uma. Ou seja, um presente envenenado.
Acho que tem toda a razão, Paulo.

cristina ribeiro disse...

Tratando-se de um um país carente de coisas tão essenciais, não consigo ver nesta medida mais do que mera propaganda cá para fora: se os cubanos não têm como aceder a esses bens, vão dar-se ao luxo de ter telemóvel? Na prática continuarão a ser exclusivo desses do poleiro, que podem comprar carne...
Beijo

Luísa A. disse...

Inclino-me para a «variante do pão e circo», caro Réprobo. Tanto mais que, discordando um pouco da nossa Cristina, acho que a adesão vai ser imensa, por esse estranho fenómeno de deslumbramento com esta específica tecnologia que parece caracterizar os grupos (ou sociedades – veja-se a nossa) menos evoluídos.

O Réprobo disse...

Era esse o meu recei, Ana, transformar os particulares em tentáculos da polícia política.
Beijinho

O Réprobo disse...

Querida Cristina,
Para qualquer espírito são, seria como diz. Mas vejamos o que acontece no nosso País com s bilhetes para a bola, por exemplo. Quantas famílias não passam fomeca por causa do acesso a umas jogatanas?
Se a telemovelmania se espalha, temo o pior para a Ilha.
Beijo

O Réprobo disse...

Querida Luísa,
admiti a hipótese. Mas a ser essa a verdadeira, ainda é mais grave, já que o "Pão e Circo", por desprezível que apareça a Espíritos Exigentes, ainda significa acudir às necessidades primárias das massas, no plano material e espiritual, apesar de alimentos rudimentares, se isolados.
Dessa diversão nem poderíamos pensar merecer tal crédito...
Beijinho

Anónimo disse...

El gran Réprobo......¿Ha estado alguna vez en la "Perla de las Antillas"?

Anónimo disse...

Mi visión particular de Cuba: muchos apellidos gallegos, pargo para comer; almanaques españoles del siglo XIX en librerías "alfarrabistas"..........

O Réprobo disse...

Bem, uma visão idílica, Meu Caro Filomeno. Não, unca lá estive, mas tenho integrado as conclusões e experiências extraídas das viagens de alguns Amigos que lá se deslocaram.
Abraço

Anónimo disse...

¿Conoce el gran Réprobo la canción "Cuando salí de Cuba" de Luis Aguilé? ¿Conoces la canción "Juanita Banana"?
Ab.

cristina ribeiro disse...

Visto assim, terão razão, Luísa e Paulo. E estou a pensar numa realidade que por estas bandas não está muito disseminada, mas da qual tenho notícia: a de pessoas que vivem em bairros de lata, mas têm grandes carros à porta. É, pois muito possível que haja esse deslumbramento. Uma questão de prioridades...

Anónimo disse...

Para ser justos, en Cuba nadie se muere de hambre. Todo el mundo tiene su casa (mejor o peor); no se ven mendigos pidiendo por la calle. Hay carencias (por ejemplo, las jeringuillas en los Centros de Salud son de cristal y hay que hervirlas para desinfectarlas; la luz tiene poca potencia; escasean las fotocopiadoras; el agua en La Habana tiene poca presión; no hay cajeros automáticos) pero si vive, en cierto modo, una vida más tranquila sin el apresuramiento de las grandes ciudades capitalistas........

O Réprobo disse...

Juanita Banana? Do Joselito, Caro e Enorme Filomeno?

não falei na fome familiar portuguesa face à concorrência da bola, senão para dar uma imagem da inversão de prioridades, claro. Os telemóveis são viciantes e temo que o mesmo, sob qualquer outra forma, suceda em Cuba.
Abraço

O Réprobo disse...

Querida Cristina, também conheci disso, por aqui, embora os bairros em questão já tenham sido erradicados. Ou, pelo menos esses casos, que foi por onde começaram a demolição.
Beijo