quarta-feira, 5 de março de 2008

Cacos do País

Sempre que surge a nova de se criar mais um partido volto a pensar no hoje muito pouco lembrado Jacinto Cândido. Político Açoreano importante no Partido Regenerador do Constitucionalismo, viria a demarcar-se do jogo -mas não já do jugo - das forças do Poder e a ser um dos precursores nacionalistas do nosso País. É conhecido o livro que escreveu sobre o Nacionalismo Português, onde diagnostica como uma das causas do falhanço do sistema aquilo a que chama Personalismo, numa pessoalíssima noção, que faria arrepiar o pelo todo de Mounier. Entendia por ele o seguidismo de chefias pessoais, com prejuízo da predominância da ideia gregária salvadora. Numa carta autobiográfica que escreveu ao filho, de que vinte páginas foram redigidas e publicadas pela revista «Estudos», de Castelo Branco, em 1962, explicita o que o conduziu a esse desencanto: as divisões intestiníssimas que testemunhou, dentro da própria etiqueta a que pertencera, entre os grupos de Lopo Vaz, Hintze Ribeiro e João Franco.
Pena é que, correctamente identificado o mal, não tenha tido o conhecimento farmacológico idóneo a apresentar solução diferente da criação de mais um partido, o Nacionalista, que levou a cabo. Espalhou-se assim ao comprido na tábua de trinchar que criticara. Parece extraordinária a incapacidade de, tendo vislumbrado a nefasta acção viciadora dos agentes fraccionantes que os homens eram, se aperceber da carga igual que arregimentamentos disputantes do Poder desempenhavam, face à Nação.
Como a salvação teria de passar por ilhas, um Madeirense que militou nesse grupo e com ele se desentendeu, Quirino de Jesus, haveria de, mais solidamente, realizar ser a cola dos fragmentos do vaso quebrado que era Portugal uma passagem obrigatória por poderes de excepção, como primeiro defendeu, ou, melhor, pela instauração de um modelo de carrocel partidário interdito, como seria a ossatura do Estado Novo em cuja edificação participou. Num certo sentido foi ele o elemento da estafeta que, tendo recebido o testemunho de Cândido, aumentou o avanço e o transmitiu, em melhores condições de vitória, a Salazar.

A solução para um desastre não pode passar por esmigalhar mais.

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2 comentários:

Anónimo disse...

Estamos d'acordo no "basta!"; mas há que ser realista e pragmático. Mesmo que um dia se restaure a Monarquia, ela terá de conviver com os partidos (a esta hora já o Paulo está a dizer: lá vem ela :) ): diga-me, isso sim, que terá de se investir muito na educação cívica dos portugueses, no sentido de eles actuarem empenhadamente no bem de todos, não se demitindo, como agora acontece, do que o interesse nacional deles requer, tornando-os cientes do quanto podem exigir dos que os governam, deixando de ser os "carneiros" que agora são, convidando a que a actual classe política seja tão pobremente medíocre.
Continuo a concordar que a transposição da democracia responsável, com a medida de autoridade "sine qua non", é muito difícil e morosa num País como o nosso, mas também continuo a querer pensar que não é impossível (embora seja menos optimista em alturas de maior desânimo...)
Será coisa para várias gerações, tantos são os vícios arreigados na sociedade...
Mais do que isso nunca passará do sonho; assim como está condenado a esse campo o que uma vez disse "o homem faz a sua realidade": só se for para viver isolado dos demais, construindo um mundo à sua medida.
Beijo

O Réprobo disse...

Querida Cristina,
"terá"? Essa agora, quem é que a obriga?
Todos os grandes movimentos que sacudiram ou sossegaram a Humanidade começaram por ser exclusivo de uma minoria de... um. É preciso optar pelo que aparece como justo e má nada. As considerações de dificuldade são para os que procuram pretextos para desistir.
Quant à "democracia responsável", não sei o que seja. Se alguma vez existiu à face da Terra, foi sem o meu conhecimento. E os dois vocábulos parecem-me logicamente inconciliáveis.
Beijo