Águas Fortes
O Espírito das Águas de Ernst JosephsonNunca alcançarei o fundamento de certos acessos de escrúpulo. A recusa de uma instituição de auxílio a crianças Cambodjanas de aproveitar a receita da venda da fotografia do nu da Bruni causa-me perplexidade profunda. Tudo o que é actriz e modelo se despe para beneficiar a protecção aos animais e outras boas causas e ninguém abre a boca em protesto. Porquê, então esta reacção desproporcionada?
Só pode ser, penso, por não se querer aproveitar a exposição da pele dela por Carla andar a branquear uma forma de Estado iníqua, como é a República de que acedeu ser Primeira Dama. Este temor sofre, porém de dois contras que grandemente o prejudicam:
1- Quando a foto foi tirada, a retratada não era consorte presidencial, era modelo, de quem se espera (merecendo-o), justamente, esta despojada postura.
2- República, Res Publica, Coisa Pública, deveria, em intrujice não sendo, obrigar a que até a representação do corpo das participantes no Poder, desde que não imortalizado contra a vontade delas, fosse património de todos. É evidente que na maior parte dos casos conhecidos se impõe, por razões de sanidade e fuga a masoquismos pouco compensadores, prescindir do exercício desse direito. Mas, desde que as medidas sejam propícias, não vejo volta a dar-lhe. Claro que o efeito preverso seria infundir no espírito dos mais distraídos a absurda crença de que o sistema republicano tinha ao menos uma justificação...
Temos assim de concluir que afinal tudo se compagina. Até a canalização da verba da venda da chapa para a dessalinização de águas nos países mais necessitados do líquido essencial à vida. É que há obras caridosas mais iguais do que outras. E como demonstra a conexa imagem publicada, nem toda a nudez será castigada.
Só pode ser, penso, por não se querer aproveitar a exposição da pele dela por Carla andar a branquear uma forma de Estado iníqua, como é a República de que acedeu ser Primeira Dama. Este temor sofre, porém de dois contras que grandemente o prejudicam:
1- Quando a foto foi tirada, a retratada não era consorte presidencial, era modelo, de quem se espera (merecendo-o), justamente, esta despojada postura.
2- República, Res Publica, Coisa Pública, deveria, em intrujice não sendo, obrigar a que até a representação do corpo das participantes no Poder, desde que não imortalizado contra a vontade delas, fosse património de todos. É evidente que na maior parte dos casos conhecidos se impõe, por razões de sanidade e fuga a masoquismos pouco compensadores, prescindir do exercício desse direito. Mas, desde que as medidas sejam propícias, não vejo volta a dar-lhe. Claro que o efeito preverso seria infundir no espírito dos mais distraídos a absurda crença de que o sistema republicano tinha ao menos uma justificação...
Temos assim de concluir que afinal tudo se compagina. Até a canalização da verba da venda da chapa para a dessalinização de águas nos países mais necessitados do líquido essencial à vida. É que há obras caridosas mais iguais do que outras. E como demonstra a conexa imagem publicada, nem toda a nudez será castigada.
3 comentários:
, nem toda a nudez será castigada
MUITO BEM!!!
então edite a dita fotografia.
Meu caro Réprobo, tem toda a razão. Os escrúpulos do pediatra são pouquíssimo convincentes. Quanto a «branqueamentos», não me surpreenderia que viesse a haver acções desse tipo sobre a imagem da Carla Bruni. As pessoas, em certas posições, convertem-se, frequentemente, a noções de «respeitabilidade», que as envergonham de coisas do passado. Será interessante observar o poder de resistência dos propalados inconformismo e rebeldia da ex-modelo.
Querida Luísa,
mas que coisa, ela tirou as fotografias de sua livre vontade e, presumivelmente, achou compensador fazê-lo. Há uns bons anos. Ninguém pretende que ela agora se sujeite ao mesmo tratamento... Onde está o problema? As Rainhas de França submetiam-se a partos para um vasto público de todas as classes. A Liberdade e a República fizeram-se retratar de seios nus! Só o passado da Carla é que levanta puritanismos complexados? Estes gauleses são quase tão loucos como o tal responsável pela nega do auxílio às criancinhas.
Beijinho
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