quinta-feira, 24 de abril de 2008

Vacina Contra a Cólera

Cólera por Le Brun

Afinal, este novo estudo facial vem mostrar que onde se queria ver patente uma ou outra Virtude Cardeal, fosse a calma e sábia Temperança, nas reacções ao andamento de um jogo de Futebol, fosse a Fortaleza de se dominar, não deixando que ganhar ou perder ponham o espectador fora de si, dão antes lugar à Cólera, expressão do Pecado Capital que é a Ira. Talvez seja esta percepção que torna os organizadores do circo renitentes a introduzir meios, ou simples auxiliares, electrónicos da arbitragem. Temem que sem o detonador de emoções violentas que é o erro arbitral, ou um imaginado sentimento dele, sejam menos atractivos os desafios a quem os procura para enervar-se, assim como aqueles casais que só conseguem fazer-se andar para a frente com recurso ao confronto permanente. E não falo apenas da vertente sexual, senão da da globalidade do interesse, digamos assim.
Porque, caso contrário, haveria um meio de minorar esta falta de propriedade reactiva - pôr as câmaras ligadas aos quadros electrónicos a focar as manifestações dos mais exaltados durante as jogatanas, não apenas as carinhas larocas nos intervalos delas. Como a falta de vergonha crescente ainda se não acha completamente generalizada, é possível que muitos se refreassem, ao sentir-se individualmente filmados.

8 comentários:

Anónimo disse...

S. Depende. Também pode despertar ímpetos exibicionistas com vontade de serem filmados.

O Réprobo disse...

Meu Caro Rudolfo Moreira,
creio que esse risco existirá quando os alvos das câmaras sejam grupos em que se fortaleçam no relativo anonimato e na dssolução da responsabilidade os institos malévolos.
Filmados isoladamente, muitos retrocederão.
Abraço

fugidia disse...

E um estudo facial aos condutores em hora de ponta?
Creio que batia aos pontos...
:-)

O Réprobo disse...

Pode dizê-lo, Querida Fugidia. Penso - e já o disse, que a condução na estrada é a circunstância da vida mais alterante, a par da roleta e similares, fazendo as pessoas perder completamente o controlo, mesmo algumas estimáveis.
Beijinho

ana v. disse...

É espantoso como isso é verdade, Paulo: ao volante, pacatos chefes de família viram monstros assassinos, coléricos e descontrolados! Lembra-se daquilo que eu disse naquele post sobre um tema em que divergimos? Não queria voltar a lembrá-lo aqui, mas era exactamente disto que eu falava!
O verniz, em nós (humanos), é muito recente e estala com facilidade...
beijinho

O Réprobo disse...

E, Querida Ana, nem se pode reduzir a problemática à velha questão dos momentos agónicos, já que, em princípio, guiar não faria parte deles. Não sei, uma megalomania momentânea de se crer e querer dono da estrada?
Beijinho

ana v. disse...

A única megalomania possível, às vezes. É como o "poder" de gerir um condomínio, quantas vezes uma projecção de voos mais altos que nunca serão possíveis...
Mais uma vez, frustrações.
Beijinho

O Réprobo disse...

Sim, Querida Ana, penso também estas circunstâncias como uma forma desajeitada de buscar compensações.
Beijinho