segunda-feira, 7 de abril de 2008

Fogo Grego

Dizer que a Chama Olímpica apagou por razões técnicas, quando tal terá acontecido pela acção de um manifestante anti-chinês de Paris, leva-me a crer que as autoridades perceberam como o temor da promoção de um regime pelo Olimpismo deu lugar à vampirização da visibilidade Olímpica pelos adversários dele. Não está em causa a inadmissibilidade da opressão sínica, para a qual bastante cedo chamei a atenção, neste mesmo local. E admitiria como lícita a luta pela não-atribuição a Pequim da organização do certame. Verifico, porém, que há muito mais banzé agora do que na altura, o que me leva a acreditar que nalguns sectores pró-tibetanos houve cinismo calculista em esperar pela vitória dos seus adversários como veículo publicitário ampliado dos seus esforços. Se formos previdentes, deixaremos de manter a qualidade itenerante da hospitalidade desportiva máxima e devolveremos o ónus de anfitrião do evento a essa Grécia que sempre o deveria ter mantido.
A figura reproduzida é a do Feiticeiro oficial do Tibete de 1924, consultado em todos os negócios importantes do Estado. Da veracidade dos seus oráculos dependia a respectiva vida. Para além de ser um modelo que me agradaria ver importado para o enquadramento da actividade dos nossos políticos, quanto aos efeitos das suas decisões, gostaria de saber se ainda existe o equivalente de tão trágico personagem e, na afirmativa, se ele caucionou, como prospectivamente vitoriosos, estes protestos.

4 comentários:

ana v. disse...

Engraçado, Paulo, estava a preparar um post sobre o Fogo Sagrado da antiga Grécia e a proibição de apagá-lo, segundo as leis divinas. Tudo isto porque as notícias de hoje me fizeram lembrar uma representação da Antígona, no colégio onde andei, de que fui a inconsciente protagonista. A chama olímpica apagada para evitar mais distúrbios, em Paris, levou-me a estas divagações de adolescência. E o mais engraçado é que tinha dado ao meu post o mesmo título que tem este seu: "Fogo Grego". Coincidências.
Um beijinho

O Réprobo disse...

Querida Ana,
e se quiser ver mais coincidências, faça-me a fineza de ir ao «Sub Rosa», onde falo de Si, a propósito.
Claro que também pretendo fazer trocadilho com a arma incendiária de Bizâncio, adequada a ilustrar o tacticismo presente nos, contudo, justos protestos.

Antígona, heim!
Beijinho

ana v. disse...

Já lá vou espreitar.

Antígona, imagine...

O Réprobo disse...

A Piedade Fraternal e a Resistência ao formalismo, juntas, é como imaginamos a Ana!
Beijinho