sexta-feira, 25 de abril de 2008

Visto de Fora

Entretanto, a propósito da duvidosa efeméride, ignoro se terá chegado a ser editado este livro, que possuo em 336 páginas dactilografadas. São as recordações do Embaixador Belga em Lisboa, à data da instauração do regime vigente. Apesar de os factos serem mais do que conhecidos e de o Autor ter sido fiel executante da política oficial do seu País, de uma aliança formal minada pela crítica da nossa presença ultramarina, traz alguns pontos interessantes, como uma panorâmica dos principais diplomatas cá acreditados à data, informação pouco reproduzida, com crueza equivalente, das origens ideológicas dos jovens governantes que Caetano levou para o governo e a escassez de efectivos do MFA, como a acentuação do carácter de defesa dos privilégios de casta postos em causa por decreto marcellista completamente tosco, apesar da aspiração de justiça.
Paralelamente, dá-nos pontos de vista interessantes
- sobre a macabra questão de Wyriamu, acentuando serem os autores das mortes forças indígenas com um quase inexistente enquadramento de oficialidade da Metrópole, o que raramente é sublinhado, deixando no ar a possibilidade de conflito tribalista na sua génese. A reacção diplomática, de solicitar ao Governo de Lisboa que assumisse as suas responsabilidades, foi completamente diversa do tom grandiloquente da campanha de imprensa.
- salienta a autorização dada a Soares, indiciado de crimes de traição, de vir a Portugal, sem ser molestado, assistir aos funerais do pai, coisa que nenhum regime totalitário, a começar por muitas Democracias, faria com facilidade.
- dá conta de que a oposição à guerra de África grassava sobretudo numa burguesia pouco disposta a põr em perigo a pele dos filhinhos. Diz expressamente que nas famílias humildes o sistema de pagamento do soldo, metade ao recrutado, a outra à família, era vista como uma fonte de rendimento alternativa à emigração, apenas com dose de risco maior, o que, acrescento no epírito do passo citado, não assustava gente dura, habituada a perdas de colheitas e outras catástrofes.
- mostra como a aclamação popular dos libertadores do Carmo tinha tido equivalente ainda mais concorrido na saudação a Marcello, às antevésperas do golpe.
- num parágrafo memorável sobre Caetano, conclui que a sua vontade não estava à altura da sua inteligência. O que, na seráfica linguagem das chancelarias, quer dizer era um incapaz para a função.
Lá que merecia o livrinho em devida forma, merecia.

1 comentário:

Anónimo disse...

fanado???...