História de Beijos
Como em 11 de Abril de 1680 chegaram os primeiros europeus às Cataratas do Niagara, deu-me para rever o filme que delas tirou o nome, de Hathaway, o único em que gosto francamente de ver Marilyn, o que é diferente de dizer o único filme com Marilyn de que gosto.
E isto porque aqui não há a vozinha de falsete da inocência desmentida pelo apelo e confirmada pela falta de consequência dele. Nesta obra temos uma dissimulada planejadora de crime, empenhada em puxar os cordelinhos das marionetas em que quer ver os outros transformados, confrontada com um excelente Joseph Cotten, dotado de uma persona celulóidica a que o público nunca consegue aderir sem reservas, o que fez dele um intérprete ideal de personagem de Graham Greene.
No entanto, há mais filmagem de Jean Peters, na única figura que faz um esforço para estar sempre bem na normalidade e na excepcionalidade das situações. Porque a história do casal pretensamente protagonista é a do inverso da de Bogart e Bergman em «Casablanca» - a do par que se tem, ameaçado pelo que passou, contra a da película de guerra, que era a do que se perdera, expectavelmente recuperável pela recordação do Preterito Perfeito. Até na música sobre um beijo, a que Rick ordenara que nunca mais fosse tocada, por evocar os momentos da felicidade amorosa, enquanto que o disco que Monroe pede para colocarem no gira-discos - e que o marido parte - traz e trai a nostalgia de momentos (em) que ele não (a) possuiu.
10 comentários:
Partilho com o Paulo essa visão de falsa inocência,cruelmente explorada por Hollywood.
Interessante o contraste que foi encontrar com aquele que é um dos meus filmes de eleição.
Beijo
também é o filme dela que mais gostei..
Querida Cristina,
aquele artificialismo sempre me irritou, pelo ostensivo e pelo excesso. E acabou por escravizá-la a um tipo, coisa que muito creio ter contribuído para a infelicidade, com o trágico desfecho que se conhece.
Beijo
Querida Júlia,
note-se que gosto de outros filmes dela, mas não da respectiva interpretação. Neste tudo se encaixa, não há notas falsas. E até canta, o tal «Kiss» que tentei postar ontem com YouTube a dar-me sopa.
Beijinho
Excelente análise de um filme de que gosto muito e que, não tarda nada, vai figurar na minha série dos inesquecíveis anos 50.
Um abraço, meu caro.
Pedro Correia
sobre a coquetterie e a mimetização que a fizeram célebre, mais do que a beleza, hoje que tenho 50 anos e prezo o natural, tb me faz confusão.
Tenho uma grande, amiga de infancia que é lindíssima e tem os mesmos tiques. Às vezes fico muito embaraçada. O engraçado é que os homens gostam. :-)
b.q.
Também gosto imenso deste filme, que mostra uma Marilyn perversa e calculista, e não uma bonequinha apatetada que só pensa em agradar aos homens, como na maioria dos seus papeis. Prova como ela sabia ser uma boa actriz, além de bonita. E como foi tão menosprezada como adulada pela sua beleza.
Um beijo
Meu Caro Pedro,
muito obrigado, fico felicíssimo por teres gostado. É inteiramente justa a inclusão, os caracteres estão desenhados exemplarmente, sem literatrice a mais que prejudicasse a acção, mas sem primarismo, igualmente. O cinema americano, no seu melhor, foi isso, até que, com a junção de outros valores, surgiu um génio como Coppola.
Abraço
Querida Júlia,
e esses tiques foram muito responsáveis pela construção caricatural da "loira burra", conceito desconhecido no Século XIX... Há mesmo um filme, não sei se é o «Como Caçar um Miionário», em que a preversidade vai ao ponto de a porem a dizer que os homens não gostam de Mulheres inteligentes (cultivadas).
B & BQ
Querida Ana,
inteiramente de acordo! Foi um desperdício, como qualquer indexação de um actor a um tipo, com a possível excepção de Bogart, já que Eastwood e... Schwarzenegger conseguiram dar a volta aos textos respectivos.
Beijo
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