Protesto Dum Pé-de-Chumbo
A constatação de que o Parlamento Afegão apoiado pelo Ocidente se decidiu a proibir as telenovelas e a dança vem demonstrar que as pulsões intrusivas na fluência vital do País ainda guardou algum legado da reactividade dos Taliban. Uma há que está condenada ao fracasso, as historietas em episódios televisionados podem ser abolidas, mas ninguém conseguirá jamais erradicar o hábito de contar, como a elaboração sobre a mais persistente das novelas que é a Vida.
Já a dança só pode ser tida por contrária ao Alcorão por fraudulentos forjadores de tradições que não existem, aproveitadas para fundamentar interditos revolucionários e puritanos. Foi o que aconteceu com Savonarola, na Florença de que expulsou os Médicis, em que igualmente ficou vedado bater o pezinho ao som da música. Ora se há alguma universalidade cultural, englobando as especificidades, é no que respeita aos bailaricos; em todo o Mundo, desde os bailes elegantes aos elementos folclóricos a transversalidade dos movimentos ritmados foi o garante da alegria das Gentes. Que talvez seja o que se pretende fazer evaporar.
O Islamismo não é excepção, povoou a nossa fantasia com agitações destas, por muito que se tenham tornado atracções de estranhos ávidos do Exótico.
13 comentários:
Peço a caridade de lerem "nas pulsões... ainda se guardou". o "se" foi comido pelo maldito processador e causou perturbaçao.
É por estas, e por outras, que acho que a Rainha Rania da Jordânia vai ter muitas dificuldades em dar uma imagem moderna do Islão...
Beijo, Paulo.
Não sei se gostei mais da dança, se do "se"...
:-)))
Sem dança, qualquer dia sem música: que infelicidade, em nome de um Deus...
:-(
E de um Deus que não a desejaria, com toda a certeza. Estas castrações tortuosas só podem vir da cabeça de humanos!
Já nem falo nas novelas, o actual "ópio do povo", mas... a dança? Só posso entender esta medida como forma de domar, pelo entristecimento, um povo já tão massacrado e com tão poucas alegrias.
Beijinho
Querida Cristina,
eu sou um grande admirador da Rainha Rania e da arte com que o Sogro, o Falecido Rei Hussein, com ajuda preciosa da Legião Árabe de enquadramento Britânico, sobreviveu a mil e um vizinhos hostis.
No caso Afegão importa pôr em evidência que o que é dado como respeito pela Tradição não passa de novidade malfazeja. Caso para dizer que "no news is good news".
Beijo
Dê-lhes ideias, Querida Fugidia, temos na nossa própria Antiguidade Tiranos que a proibiram, como à Poesia, esta última segundo a influência socrático/platónica.
Beijinho
e assim em nome de coisas que não se entendem se reduzem liberdades e alegrias .. não posso deixar de lamentar.
O ponto que toca é importantíssimo, Querida Ana. Está a generalizar-se um entendimento, que conhecemos no mundo Cristão por Calvinismos e Reformismos extremos, em como o respeito se identifica com a eliminação da Alegria, precisamente o inverso do Espírito Católico.
Bjinho
Querida Once,
é sintomático de uma fraqueza de espírito, a de encarar a Divindade como inacessível, numinosa, ao ponto de esterilizar a normal exteriorização de impulsos que ninguém prejudicam. Como se o Distante obrigasse à opressão para Se fazer valer.
Beijinho
Também eu sou admiradora dos Hachemitas da Jordânia, e lembro-me de que quando o Paulo disse que essa seria, talvez, a melhor das soluções para o Iraque (por via do pretendente Sharif Ali bin Hussein) fui da mesma opinião; e agora que a Rainha, uma mulher árabe civilizada, se propõe mudar a imagem retrógrada que passa do Islão em geral, boicotam assim os seus esforços...
Beijo
E sobretudo, não percamos de vista o busílis, Querida Cristina, ancorando a malfeitoria na invenção, não na Tradição.
Beijo
Uma bela mulher, feita por Allah, dança. Que melhor tem a vida?
Feliz o marido, felizes nós que a vemos e obrigado pela imagem.
Tem razão, a alegria nasceu ou renasceu há 2000 e tal anos num dia de Luz, que tem a ver com a Dança.
Abdul Al Aziz, darvish
Hahhahaha!
Há é que convencer do caso os cabeças-duras da troupe paralamentar.
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